Criadores de gado estão encontrando um bom filão de negócios no mercado turco. Os animais são exportados vivos. Para isso, é preciso seguir uma série de normas.
Os turcos foram até uma fazenda em Barreto, São Paulo, em busca de 35 mil cabeças. Os garrotes, com até um ano e dois meses de idade ficaram confinados por mais de trinta dias. O negócio só foi possível porque os brasileiros conseguiram atender os critérios de qualidade exigidos pelos turcos, que hoje são os maiores compradores de gado vivo do Brasil. Só no ano passado, importaram mais de 124 mil cabeças.
Eles preferem os animais vivos por questões religiosas. Os muçulmanos seguem critérios que vão desde a criação até o abate. O gado, que vai ser engordado na Turquia, foi acompanhado pelos compradores desde o nascimento.
“Esses animais são selecionados desde a origem. Eles são novamente selecionados pelo comprador e passam por uma terceira seleção, que são os veterinários turcos. Que eles vêm para inspecionar esses animais, conferência de brincagem, isso é muito importante pra eles”, explica André Luiz Perrone dos Reis, pecuarista.
Cada boi pesa no máximo 300 quilos. “Eles gostam de um gado sem cupim. Eles não gostam do gado muito zebu. Eles gostam do gado mais europeu mesmo”, explica Fabio Abreu Lemos Brandão, zootecnista da fazenda.
Antes da viagem, os bois são alimentados com uma ração desenvolvida especialmente para garantir a saúde dos animais até a chegada na Turquia. Ela é rica em fibras e com uma quantidade a mais de proteína. Tudo isso para assegurar a qualidade da exportação brasileira.
Cada animal tem um chip eletrônico que guarda informações desde a origem até o tipo de solo em que o animal vive. Isso facilita o acompanhamento durante toda a viagem.
O Globo Rural acompanhou o transporte de um lote de animais até o porto. Foram 88 carretas, com pelo menos 70 bois em cada uma. A carreta preparada com piso antistress é pesada e segue lacrada até o litoral.
“O importante é que esse animal já saia daqui com o mínimo de estresse possível, porque é inevitável o estresse da viagem, do transporte. Aqui a gente tenta embarcar esse animal da maneira mais calma possível”, afirma Risoleto Odilon de Lima Filho, veterinário.
Com tanta exigência, o preço do gado ganha valor e custa até 25% a mais do que no mercado interno. O pecuarista consegue fazer da exportação um negócio cada vez mais atrativo.
“Ajuda a drenar o mercado, a dar uma nova alternativa para o próprio produtor e isso gera divisas para nós, principalmente para o agronegócio”, avalia André Luiz Perrone dos Reis, pecuarista.
Com os caminhões carregados é hora de seguir viagem. São quase 600 quilômetros até o porto de São Sebastião, no litoral de São Paulo.
Quando o navio vindo de Cingapura aponta no porto e começa a atracar, começa uma grande operação.
São pelo menos duzentos homens envolvidos na preparação e vistoria do navio, montagem da rampa e separação da serragem, que é colocada dentro do navio para acomodar os bois.
A plataforma só é liberada depois que os fiscais do Ministério da Agricultura autorizam o embarque. São eles que retiram o lacre de cada caminhão.
Para embarcar quatro mil cabeças não é simples. Os bois vão subindo um a um por uma rampa. O processo todo leva cerca de dez horas. É demorado e caro. O custo de uma operação dessa gira em torno de trezentos mil reais.
“São mais R$ 400 mil de transporte rodoviário, R$ 250 mil de exames sanitários. Os R$ 300 mil são só para operação em São Sebastião”, explica Valdner Bertotti, empresário.
As exportações de cargas vivas no porto de São Sebastião aumentaram em 2017. Elas já representam um terço da movimentação no porto. Serão quinze dias de viagem até a Turquia.
Dois veterinários acompanham a carga durante toda o trajeto até o desembarque. Lá os animais vão ser levados para uma fazenda, onde começa a engorda. O abate, seguindo todas as normas do país, está previsto para daqui a seis meses.
Em breve, o trabalho recomeça no Brasil. Até o fim do ano, 70 mil cabeças vão deixar as fazendas de São Paulo rumo a Turquia.