Volume comprado de outros países, como Argentina e Uruguai, é o segundo maior da década e serve de alerta à falta de suprimento desse tipo de produto nacional
É possível ainda necessitar de carne bovina o dono do maior rebanho de bovinos do mundo, com 214,9 milhões de animais? Ainda mais sendo esse país o segundo maior produtor global, com cerca de 10 milhões de toneladas, e o maior exportador, com 2 milhões de toneladas comercializadas, no ano passado?
Pelo senso comum, a resposta seria não, esse país não precisaria importar mais carne bovina. No entanto, o fato é que sim, esse país, o Brasil ainda importa. E no ano passado, o País comprou no exterior 50,8 mil toneladas por US$ 219,6 milhões, segundo os dados do AgroStat, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).
Na comparação com as exportações de carne bovina, o volume importado quase não tem importância. Mas revela uma deficiência na produção: o Brasil ainda é cliente da carne premium produzida no mundo, em vez de fornecedor em escala. No ano passado, esse comércio foi feito com 6 países: em primeiro lugar vem o Paraguai, e na sequência estão Argentina, Uruguai, Austrália, Estados Unidos e Japão.
Considerando as vendas de carne in natura, onde estão os produtos de maior valor agregado, a média da tonelada da carne brasileira foi comercializada por US$ 4.318,54. Já a tonelada de carne in natura argentina foi adquirida por US$ 7.337,07; a carne uruguaia, por US$ 7.439,26; e a australiana, por US$ 8.201,70 tonelada. E quem diria que, em plena pandemia, alguém pagaria US$ 65.103,67 por uma tonelada de carne produzida no Japão? Foi o que aconteceu, com a compra de três toneladas.
Não há informações precisas sobre qual é o volume de carne de qualidade produzida no País, mas o fato que é um volume ainda muito pequeno diante da demanda e do que a pecuária produz atualmente, na casa de 10 milhões de toneladas anuais. De carne premium nacional, a estimativa é que não passe de 3% desse volume, o que justifica uma maior importação de carne em 2020.
Para o engenheiro agrônomo Roberto Barcellos, sócio do projeto BBQ Secrets, um empório de carnes especiais para churrasco no interior de São Paulo, a demanda no País deve permanecer em crescimento nos próximos anos. Mas é fato que para produzir o boi de carne premium é necessário um olhar atento e foco no manejo. Para agregar valor, o caminho que o produtor tem de trilhar não é apenas o da produtividade, ou seja, do aumento de arrobas por hectare.
“Do lado da produção, se olha para a pecuária de corte brasileira mais pela eficiência. As métricas são de produtividade. No entanto, o grande aprendizado é que para dar mais característica de qualidade à carne não é com um animal extremamente eficiente”, afirma.
Barcellos foi um dos convidados do programa DBO Entrevista. O bate-papo foi justamente sobre o processo de transformação de parte da pecuária brasileira em busca dessa agregação de valor que hoje fica com produtores de outros países. Ele fala dos projetos que buscam se consolidar através de um sistema de manejo, alimentação, genética e cruzamentos para chegar ao boi ideal de carcaça ideal para esse mercado.
Cortes premium nacionais
Embora a importação de carne premium não deva cair nos próximos anos, o Brasil está trabalhando para suprir esse mercado de carne. Barcellos acredita na sua evolução e aposta que o País possa rivalizar em qualidade com o que hoje é importado.
“É um grande prazer ver essa evolução da produção da carne bovina brasileira e saber que no Paísjá tem uma carne tão boa quanto os principais países do mundo”, diz ele.
Com quase 30 anos de atuação no mercado da pecuária, Barcellos tem conseguido fazer com que o produtor enxergue esse consumidor mais exigente no País.
Mas o que é carne de qualidade?
O princípio, segundo Barcellos, é a percepção de uma qualidade vinha dos próprios consumidores, que sentiam diferenças de bifes produzidos em outros cantos do mundo e que não lembravam as características do bife brasileiro. Entre as características relatas se destacavam a maciez, suculência e sabor.
“Eu remeto a maciez ao abate de animais mais jovens. Remeto o sabor e a suculência ao processo de maturação e os níveis de gordura de acabamento e de marmoreio”, conta Barcellos.
Acompanhe a entrevista na íntegra: